Deu branco

Hum. Engraçado. Neste final de ano me deu branco.

Sou um renomado colunista e, como de costume, fui pedido que escrevera uma mensagem otimista, mas ao mesmo tempo engraçada para a coluna de fim de ano.

Não consegui.

Deu branco.

Nada.

Nenhuma idéia.

Zero.

Se entrei em pânico? Não.

Sentei-me relaxadamente em minha poltrona criativa e estiquei os joelhos. Fiquei assim por um tempinho, aproveitando meu estado “em branco”. Teria eu atingido o nirvana sem nem estudar pra isso? Sem nem me concentrar pra isso? Nossa, se este fosse o caso, minha coluna estaria pronta: “Alcance o nirvana através do nada”. Uma simples frase que geraria pensamentos inquisitivos.

Normalmente fazemos resoluções, tentamos rever e resolver as pendências, perdoar, amar mais, sorrir mais, dizer que tal assunto não será mais problema, que outro será mais motivo de alegria, reconhecer os outros e gostar deles pelo que são e etc, etc, etc…

Baboseiras. Neste ano confesso do “branco”, consegui usar este espaço pra realmente pensar coisas válidas e úteis. Coisas possíveis. Vi e lembrei que foi um ano de tanta correria, tanta surpresa, uma mistura de frustração com agrados, perdas, ganhos, mas não como outro qualquer. Foi um ano intenso. INTENSO – com letras maiúsculas. Perdi até a memória pelo acúmulo de coisas que permiti me jogarem. Nesta reta final, estou me recuperando e também recuperando minha cabeça e minha memória.

A verdadeira questão do que pensei foi: “se aconteceu assim foi porque eu deixei”. Aí o branco sumiu. E veio um cinza. Um cinza escuro, cor de nuvem carregada de chuva. Aliás, senti-me no meio de uma tormenta. “Aquilo tudo havia acontecido com permissão minha??!!”. Ai. Queria o branco de volta. 

E através deste desejo, percebi que, talvez, estivesse aí a minha resolução.

E, claro, minha coluna não foi publicada. A editora me encarou com cara de “ué” e me disse pra fumar menos. Também disse pra eu me esforçar menos, me cobrar menos. Sem nem imaginar, ela me mandou de volta pro branco. Agradeci com um sorriso e concordei. Outra resolução.

E saí de lá pensando na coluna do Carnaval.

One Comment Add yours

  1. Od says:

    No mundo agitado que vivemos hoje, conectados 24 horas por dia, esquecemos como é o branco, ou o nothing box. Resolução de ano novo: vamos promover mais a utilização do branco e ligar o foda-se pelo menos uma vez por semana. Viva a liberdade!!!!!

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