O lado B

A loucura vem aos poucos. Ela vem devagar, vai tomando teu espaço e conquistando o dela. Quem é louco sabe quando está ficando louco. Sente mesmo que está perdendo o jogo. Sabe o que está se tornando. Mas ainda não é louco o suficiente para contar para ninguém. Só loucos entendem os outros loucos, mas como eles se acham no meio de tanta loucura diferente da sua? E como saber quem é o outro louco se ninguém avisa, se ninguém afirma que está ficando louco? E o quase louco, o futuro louco, este tem medo de apressarem sua loucura se avisar que ela está chegando. O tomarão já por 100% louco e darão remédios, o olharão com pena, deixarão de contar certas coisas, visitarão menos e aí, claro, qualquer um fica louco. O que já está quase lá, fica mais mais rápido. Mas nem sempre é isso que o quase louco quer. Pode não saber bem o que quer, mas sabe das coisas que não precisa e nem deseja. Ele não quer ser solitário, afastado, condenado. Ele não deseja afastamento, mas acaba sendo pelos outros ou, por ato de altruísmo, afasta-se para que os outros não sofram com algo que pertence somente a ele. É assim também com a loucura. Ele não a quis, mas ela veio. E ela é forte, ela domina, ela assusta e ela até faz um se questionar: “se sei de tudo isso com tanta clareza, não devo ser tão louco assim… mas… é assim que me sinto” e por aí vai a montanha russa da loucura. Ela é por si só louca. Loucos são aqueles que a tentam compreender, tentam desvendar tamanho mistério. Não dá, ninguém consegue. A esfinge com seus enigmas… ela era louca, com certeza. E quem tenta descrever, narrar, entender, explicar ou ter qualquer outra ação sobre a loucura é também, por si, já um tomado por ela. Porque ela se apossa tanto que o louco imagina entendê-la e se sente na autoridade de poder falar sobre ela. Que engano. O quase louco simplesmente age como transmissor, pois quem vos fala na realidade é a loucura em si. Ela tem voz, tem vontades, tem dedos, tem personalidade. Aliás, personalidades. No plural. Ela é sempre múltipla. É praticamente um vírus. Quem estiver com imunidade mais baixa, pronto, é alvo certeiro. Assim como um vírus, há quem a resista. Feliz deste. Mas mesmo sentindo a rápida, porém amarga visita da loucura, quem a conseguiu vencê-la não faz do quase louco um cúmplice, mas sim um perderdor, um fraco. Faz isso não por maldade, mas por possível proteção, pois andam em direções opostas. O louco anda, dentro de si mesmo, por caminhos contrários. E é aí que o quase louco volta para sua loucura, afinal lá encontra sua fortaleza, encontra somente uma direção.

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  1. Od says:

    Acho que eu ainda sou normal… Pra entender esse aqui o cara precisa ser meio louco!! kkkkk

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