Sou do tipo questionador, mas demorei para perceber que não me sentia tão à vontade com nenhuma das minhas ex-namoradas e, pior, nem mesmo com minha ex-mulher. Tive um casamento de 5 anos, cujos 3 deles foram vãs tentativas de me acertar com a ex. Casei pensando mesmo que daria certo. Se estava totalmente apaixonado? Isso não saberia afirmar na época, mas me cercava de bons argumentos racionais que me faziam crer que “sim, sim meu casamento daria certo”. Não sei ao certo se sabia bem como era estar realmente apaixonado. Se aquele sentimento avassalador já possuíra-me alguma vez. Na dúvida, meu coração dizia que não. Minha cabeça convencia-me de que sim, relembrando-me das experiências vividas, das garrafas de vinho esvaziadas em comemorações, das bonitas fotos e viagens… Aquilo tudo deveria ter um significado maior do que simples companhia.
Sempre fui muito dedicado, comprometido e cuidadoso em meus relacionamentos. Poderia ter dúvidas do que era paixão, mas de companheirismo e amizade, ah, disso nunca duvidei. Sempre estive presente, demonstrando preocupação, cuidado e afeto. Tanto que minhas ex, todas mesmo, sem exceção, entravam em contato depois dos términos para dizer que eu havia sido o melhor namorado que elas tiveram (algumas diziam até “e que jamais teriam”). Não conseguia entender, então, o motivo pelo qual algumas me trocavam por outros. Seria a tal possível falta de paixão? Fiquei triste em considerar esta possibilidade. Não por não estar com mais nenhuma delas, mas sim pelo fato de não haver sentido isso ainda. Desejei por algo arrebatador, mesmo que a pessoa não quisesse nada comigo.
Decidi, então, armar-me em prol do sentimento. Conversei com amigos artistas que tinham mais sentimentos do que sentimentos no mundo.Aluguei vários filmes românticos (desde comédias românticas com finais felizes até os mais dramáticos que só faltavam vir com uma dose de estricnina ao lado). Observava casais em restaurantes. Comprei até revistas femininas. Li livros dos maiores romancistas clássicos e relia os trechos que descreviam os atos e as volúpias de seres apaixonados. Em vão… Nada me fez apaixonar-me perdidamente por nenhuma das candidatas com quem vim a envolver-me. Tentei. Lembrava das falas dos filmes, das linhas dos livros, das expressões dos amigos artistas e dos casais desconhecidos. Imitava-os, mas nada acendia dentro de mim. Comecei a pensar que era um ser bizarro, sem cura. Afinal, o mundo fazia tudo aquilo com tanta facilidade!
Até que a conheci. Ela chegou na empresa onde trabalho há exatos 2 anos e 3 meses e, um dia, ao virar-me da impressora rumo à minha sala, nos esbarramos. Com um sorriso sincero, ela se desculpou enquanto arrumava o cabelo atrás da orelha. Disse “não conte meu segredo de ser estabanada, por favor. Ainda estou em fase de experiência.” E sorriu novamente, piscando levemente os olhos. Me apresentei e perguntei quem ela era.
Não demorou muito e percebi que havia a conhecido fazia pouco tempo, mas me sentia tão à vontade em sua companhia como jamais me sentira com minhas ex-namoradas. Ou pior, até mesmo com minha ex. Construímos uma amizade gostosa, eu ansiava por chegar no trabalho e, eventualmente, encontrá-la no corredor. Gostava de contar meus assuntos e escutar os dela. Gostava de estar perto dela. E ponto.
E assim passaram-se alguns meses até que, num dia qualquer, optei por descer pelas escadas em vez de elevador e a encontrei na mão contrária, subindo os degraus. Ela me abriu aquele lindo sorriso e eu, como se possuído, sem nada falar, simplesmente agi: a tomei pela cintura e dei-lhe um beijo na boca. Beijo mesmo, daqueles que vi nos filmes. Daqueles que os escritores descreviam e os amigos artistas ensaiavam para mim.
Após o beijo roubado, ela me empurrou com certa leveza e perguntou o que eu estava fazendo, que estávamos na empresa, alguém poderia ter visto e nem sei mais o que… parei de escutar enquanto ela se ajeitava e arrumava os papeis que carregava. Só voltei a ouvir suas palavras quando algo parecido com “você foi egoísta!” saiu de sua boca.
Foi nesta hora que percebi que o coração realmente tem voz. Que ele fala. Saiu de dentro de mim a minha voz, mas não sinto que fui eu que falei. Saiu em alto e bom tom a seguinte frase: “sim, fui egoísta. Fiz o que fiz por mim. Porque precisava sentir como seria. Precisava realmente me permitir ser e sentir ser feliz neste momento. Precisava conhecer a real felicidade por estar apaixonado. Só conhecendo de verdade para poder oferecer o mesmo a você. Para te fazer feliz, tive que ser feliz primeiro.”
Assim foi nosso primeiro beijo egoísta para cada.
Adorei Juju!!!!
Tá romântica, hein?