Vim. Não tinha como ser diferente. Trata-se de uma das pessoas mais queridas da minha vida já há uns bons 13 anos. Vim pelo fato de ser seu aniversário. Vim pelo simples fato de ela ter pedido. Mas confesso que não vim completa. Não estava por inteiro, apesar de outros amigos continuamente elogiarem meu “lindo sorriso de sempre” ou atestarem “como ela está sempre bem e bonita”. Até a primeira metade da noite consegui segurar o sorriso e a máscara. Depois, tirei proveito de uma ligacão inesperada e subi para o segundo andar do restaurante e me refugiei dentre as poltronas e suas muito protetoras almofadas. Senti-me acolhida por estranhos braços e encostos que nada me questionavam, somente seguravam. O formato cúmplice dos botões dos sofás e meus olhos faziam com que o silêncio entre nós gritasse. Eles sabiam o porquê do meu olhar arredondado. Eles entendiam o porquê da minha visita. Ao contrário da ligação, parecia que os botões retrôs me esperavam. Eles tinham até um certo olhar mais olhar que o meu. Os questionei com leve levantar da sobrancelha direita. Em resposta, posso jurar ter visto um deles piscar. O sofá, vermelho e de couro, sorria maliciosamente em segredo aberto com seus botões. Fiz o mesmo: conversei com meus “botões” encarando seus primos do impiedoso sofá vermelho. Se cheguei à alguma sólida conclusão não sei dizer, pois meus pensamentos foram interrompidos pelas mãos de um dos colegas da mesa questionando se estava tudo bem. O mirei com o mesmo olhar questionador da sobrancelha arqueada e disse que havia perdido um botão. Ele ficou a procurar enquanto eu parti rumo à escada abaixo e já enchia outra taça de vinho da mesma cor do sofá e sorri para quem quisesse ver.