Eu venho trazer e buscar minha mulher todo dia no trabalho. Ambos somos bem sucedidos e acomodamos confortavelmente dois veículos em nossa casa, mas não na rotina.
Gostamos de passar tempo juntos. Achamos que o dia começa mais leve com os dois conversando no carro pela manhã ou simplesmente pela companhia um do outro.
Sinto uma alegriazinha interna em vê-la se maquiar de forma bem automática, mas sem perder a qualidade, enquanto canta o que estiver tocando na rádio. A memória dela para letras de música é algo que ainda me impressiona, mesmo depois de tantos anos de casamento.
Ela me contou, num outro dia qualquer, encostada no meu ombro enquanto eu dirigia, que sentia “uma certa alegriazinha” por compartilhar aqueles minutos do dia comigo. Bem voltada ao trabalho que é, ela terminou a declaração dizendo que a isso a deixava com mais vigor para encarar a labuta. Entendi o sentimento por detrás da forma como ela o expressara.
Se eu não tivesse aprendido a vê-la como, possivelmente, nem ela se enxerga, talvez não estivéssemos juntos.
Na teoria, somos muito diferentes.
Na teoria, ambos precisariam de “alguéns” bem diferentes de nós para formar par mais certo com outro alguém.
Na teoria…
A teoria pede prática.
Acredito obter-se a prática ideal através da observação. Olhando e arquivando as nuances. Ela em si é nuance, apesar de, na prática, se achar matéria.
Na teoria, sou tido como desligado. Na prática, sou observador.
Tão observador que percebi de forma absoluta e plena o quão observadora ela também é.
Ela me vê como sou, sabe de mim e me aceita. Se refaz a cada observação nova e volta a observar. Até porque, na prática, ela é, de fato, bem prática. Então sua observação é profunda, quase um estudo de caso. Soma fatos. Junta dados.
E eu, admirado com nosso casamento de sucesso e também com ela, sigo observando.