Até percebo minha respiração, a conheço, a sinto, mas meu coração parece ter parado com suas batidas. Ofegante já estava, agora me dando conta do meu coração paralisado, então, minha respiração parece ter passado a mil inaladas e exaladas por segundo. Medo? Oh, Deus, é pânico!? Será isso um ataque cardíaco? Me recuso a qualquer coisa parecida com isso, seria um ultraje neste momento! Sou saudável, estou bem, competindo a fase final deste campeonato de saltos – meu Deus, a quantos metros mesmo estou da piscina?!… Também sei da posição: estou aqui de pé, ereto e parecendo confiante. Mas também estou de costas! E como isso aumenta o nervosismo. Pronto! É só isso este sentimento! Puro e simples nervosismo. Eu posso e devo lidar com isso agora; sou mais forte. A química do cérebro deixa seus rastros, mas é só uma tentativa de me enganar. Para isso tem um nome… Hum, como é mesmo o nome disso produzido pelo cérebro em momentos de tensão e euforia? Pronto. Agora sofro de paralisia mental. Agora coloquei a cereja no bolo podre, só me faltava essa… Oh, doce céu, como isso? Paralisia mental até aguento agora, mas caso isso se estenda para as pernas, será impossível me mexer! Insuportável isso! Chega deste vai e vem de sensação errada. Estou certo e confiante de tratar-se de só nervosismo e de um final feliz e regozijante. Vai dar. Há de dar! De um jeito ou de outro já deu até agora, certo?… porque agora, justo agora seria diferente? Essa estória de segundos só tem um final e, como disse, ele é feliz. Mas há algo estranho em mim. Sinto arrepios em cada pêlo do meu corpo, cada poro se levanta de maneira majestosa e triunfante. Parece competirem entre si, olhando para seus oponentes e observando quem levanta mais alto seu habitante. Mas sem frio, qual o motivo deste arrepio? Ah! O reconheço, eu o conheço bem! Vem deles, de todos aqueles ali, aqueles bem ali atrás de mim. Eles me miram de frente, me fitam quase sem piscar numa expectativa irreal (ou seria mesmo “surreal”?), com uma confiança cega (há, quanta ironia!) da certeza do final feliz e de mim como seu campeão. Sinto seus olhos grudados em mim, eles acaraciam meu corpo com seus cílios trêmulos e rápidos. Me coçam, me acalmam, me arrepiam. Me impossibilita ver estes olhos simplesmente porque estou de costas. Também pode ser porque estou de olhos bem fechados. Assim vejo melhor. Assim enxergo de verdade e aguço meus outros todos sentidos. Assim me sinto e os sinto. Deixo cada poro dar as boas vindas a cada olho. Cada poro tem um. Cada olho tem um pedaço de mim. Me deixo doar por completo e ser penetrado por esta energia quase tangível, quase visível (ah, bastaria abrir um pouquinho os meus olhos para, quem sabe, a ver de fato?), mas certamente muito real e viva. Sou invadido por sentimentos conhecidos por mim, pois ah, estes sim, sim me são muito bem conhecidos, mas são sempre uma novidade. Basta virar meu corpo, posicionar meus calcanhares na ponta desta tábua na distância precisa, exata, perfeita e audaciosa entre o cair desengonçado e a mais graciosa pirueta transformada numa valsa de um corpo só e de ponta cabeça, quando ah, eu sinto tudo isso. Capto cada olho e cada olhar, cada calor e vapor transmitido de cada ser ali atrás. Sempre foi assim e sempre será assim. Supreendentemente ainda me causa surpresa algo tão conhecido por cada poro meu. Ante ao ato, preciso deles. Nunca os conheci, nem sequer os vi. Mas sempre reconheço suas presenças pelo simples fato de eu estar aqui. E é neste milésimo de segundo onde me reafirmo porque é o abraço deles quem me mergulha.