( Mr. Ronnie Biermann e eu apresentamos o abaixo para começar bem o feriado! Divirtam-se!)
Sentei-me aqui com minha 1ª lata de cerveja em mãos após um exaustivo e surpreendente final de dia no trabalho. Percebi que somente agora, neste exato momento que tomo meu 3º gole e começo a escrever, é que volto a ter pensamentos: estes estavam ainda em transe, como se numa prisão de ventre mental. Passei um pouco mais de uma hora no trânsito em pura catatonia e agora, aqui relaxado, bebendo e escrevendo, as palavras voltam a circular em minha mente e as cenas voltam a se desenhar em frente aos meus olhos. Segue abaixo meu relato verdadeiro, curioso, exagerado, minimalizado, absurdo ou tudo isso.
LATA 1
Pois então, lá estava eu sentado no meu escritório e lá estava ela: a única gaúcha morena que conheço, bem simpática nos seus 30 e tantos (ou poucos), olhos de cor interessante (não sei a cor, mas são bonitos) e que elegantemente se veste de forma levemente exagerada. Agora é perceptível até para quem não quer ver (eu) que esta muda o ritmo da fala e da respiração quando estou por perto. Demorei para ver e muito mais ainda para assumir tal percepção, mas a vida é como é. Sei lá que porra viu em mim, mas isso não vem ao caso. De louco todo mundo tem um pouco… De qualquer forma, em todas as interações que tivemos, nunca dei (nem ela), nem ofereci mais do que respeito.
Não necessário mencionar os característicos e instintivos movimentos desnecessários que poucos(as) controlam (ou tentam) quando se está perto de alguém que altera a configuração das sinapses, e que por vezes reverberam em outras reações hormonais, automaticamente respondidas por diversas, mas específicas partes do corpo. Constantes arrumadas de cabelo, acidental aparição no café, cruzadas de pernas em 3D, risadas que combinam com seu jeito de vestir e que usam toda a cabeça, jogando-a para trás, e não somente a boca, ajeitadas apressadas na roupa, etc.
Pois então, feita a apresentação da minha colega, conto que esta me pediu uma reunião para a qual ela tinha originalmente apenas 10 minutos – precisava realmente terminar vários relatórios urgentíssimos e de alta valia para a empresa – 10 viraram 30.
LATA 2
Zonzo pelo meu almoço que foi acompanhado por clientes tão importantes quanto os relatórios da gaúcha e mistura etílica composta por fermentados e destilados de quatro diferentes nacionalidades (tudo pela venda do negócio, correto? – mas que tampouco vem ao caso), lá estava eu, pronto a exercer meu profissionalismo e fazer valer a fração de salário alocada ao tempo destinado a ser bem gasto na solicitada reunião.
Em determinado momento, já após resolvidas as questões da pauta (na verdade, apenas endereçadas as recomendações técnicas), um novo assunto fora da pauta, porém relacionado ao anterior, surgiu. Para o tal, minha ajuda profissional foi solicitada novamente. Ok, vamos ouvir e ver se, em caso positivo, como poderia ajudar a sulista.
Parece que ajudei. Na euforia da solução já direcionada (alegria mesmo, creio) aos temas anteriores, os incessantes movimentos tão espontâneos quanto desnecessários, somados ao sistema hormonal e à já mencionada respiração sem controle de ritmo, algo ocorreu.
LATA 4
Sim, para relatar o se procedeu, engoli quase num gole só, a 3ª lata de cerveja.
Em meio à girândola de palavras de agradecimento e próximos passos/ações, gestos, preocupações… algo saltou de dentro da mulher. Um pulo em forma de um arroto saiu de dentro da morena. Aquilo mais parecia uma tuba Sousafone mandando o seu mais grave Mi bemol por meio compasso durante o solo principal da Flauta Mágica de Mozart. Travei. Senti-me uma réplica de qualquer boneco de cera.
Se lembro bem de algo que aprendi nas aulas de termodinâmica, zero absoluto, 0K ou -273,15° C, como preferir, foi essa justamente a temperatura da minha cara. Profissionalmente, continuei de forma serena com meu pitaco técnico informando que, de fato, a solução e o caminho certo já haviam sido identificados.
Como se Charles Darwin nunca tivesse criado a Teoria da Evolução, como se 11 de Setembro nunca tivesse sido um marco na história político-econômica, e como se o buraco na camada de ozônio nunca tivesse criado preocupação na raça humana, foi encerrada a reunião.
Antes de sair, para arrematar o combo assustador, ela tomou a iniciativa de me agradecer e levantou o braço direito para me dar um leve semi-abraço e um profissional beijo de agradecimento pela ajuda. Creio que a intensidade dos gestos corporais, somada às reações de glândulas ativadas pela frequência daquele desafinado Mi bemol, delataram o surgimento de instantâneas manchas de suor nas axilas da mulher. Ah, estou na 7ª lata – esqueci de comentar isso – porque foi impossível relembrar tudo isso e não gargalhar até quase me sufocar em mim mesmo.
Enfim… humanos.