Auto(tudo)

Espiritualizada que sou, tendo a ver aspectos, situações e experiências da vida como chances de aprendizado, testes para evolução e crescimento. Por um lado, tudo fica mais romantizado quando visto sob esta ótica, por outro, muito mais pesado. Eu mesma coloco sob mim um dedo gigante que me aponta o tempo todo. Ele pode aprovar ou reprovar minhas escolhas e eu o vejo sempre – isso quando não o sinto (mas não dá pra contar isso para todo mundo, pois ninguém entende). Tendo a melhorar sempre através de estudos, pessoas competentes, bons exemplos, aperfeiçoamentos diários através de situações e me avalio, não julgo os outros (sempre tento entender o porquê de tal ação ou reação), enfim, estou sempre olhando para o tal “eu melhor”. Consegui me mudar, melhorar, aceitar várias coisas, dar passos na direção do que busco e acredito. Certos passos foram sem volta porque acreditava no rumo deles e detectei que uns eram aquilo mesmo e outros, na verdade, tinham volta sim. Aí, claro, simplesmente voltei por não ter achado o que queria. Pronto. É assim que vamos vivendo. Bom, pelo menos eu.

Estou completamente ciente que isso gera um ciclo complicado: se exijo tanto de mim, naturalmente e sem querer, acabo exigindo dos outros também. Quero qualidade. Ao mesmo tempo, sou bem mais complacente com os outros do que comigo. Hum, estranho isso, pois percebo a contradição no que estava vindo, até agora, como algo consistente. A reação desta ação é que os outros me enxergam como quase uma “superpessoa”, pois não são tão complacentes comigo quando eu, sem querer, erro com eles ou não ajo como seria do agrado deles. Interessante como o tiro sai pela culatra: busco me melhorar e tento ajudar os outros nestes processos deles, mas me sinto menos beneficiada quando eles deveriam me ajudar nos meus processos também, afinal me vêem como a que faz tudo sozinha, a que pode se virar. O que é mais difícil de lidar é quando eles fazem algo que não gosto ou que me entristece e eu sou honesta com eles. A honestidade machuca tanto? Se sim, puxa, aí é complicado mesmo, pois tendem a virar o jogo a seus favores e entram com julgamentos. E como raios podemos melhorar se não através da honestidade?! Será ela tão cruel assim que o peso é insustentável? Será que eu sou mesmo tão forte assim como me julgam (pois supostamente aguento o baque de dizer e lidar com a verdade) e tão cega também para ser a única a não ver isso? “Pior cego é o que não quer ver”, dizem. Hum. Eu acho que quero ver, mas quem sabe se não estou me enganando aqui? Afinal, todos se enganam, certo? De repente acabo de descobrir minha força e minha fraqueza no mesmo ponto.

Não vim fazer autoavaliação, apesar do título. Vim mesmo possivelmente desabafar algo que passei há poucas horas e me fez pensar, refletir, para variar.
Me vi diante uma situação extremamente desagradável, posso até dizer “idiota” de tão impensada e feita com tanta falta de consideração a outros envolvidos e não tive a reação que gostaria ter tido. Mental que sou (sim, tenho alma e cérebro), pensei na resposta, senti a resposta em mim e meu pensamento a processou como sendo a melhor opção. No entanto, não tive força para executá-la. Optei pelo silêncio. Me martirizei depois (e ainda o faço, afinal, ainda estou escrevendo…) e me senti boba por não ter feito o que precisava (ou queria), fraca por não ter seguido uma ordem tão bem dada pelo meu amigo cérebro. Vi meu “Super Ego” se reerguendo majestosamente dentro de mim, andando lentamente em minha direção e, a cada passo, crescia 2cm. Veio com aquele ar sereno, mas dúbio e, sorrindo, me puniu. Ajeitou o tal dedo e o apontou ferozmente contra mim e minha falha. Me fez questionar do porquê ter ficado quieta: será pelo fato de que aquele assunto, ainda que me incomode, não seja assunto suficiente para me causar uma reação de verdade? Pode ser. Será porque resignei diante do imutável? Há leis nessa vida que nem a melhor das explicações mentais conseguem alterar. Ou será simplesmente porque não quis e pronto? Afinal, é certo de que tenho este direito de “não querer”. A pergunta é: tenho o direito, mas… faço uso dele? Posso?

E assim ainda neste linha de questionamentos, chego à conclusão deste texto: ele não tem fim. Não o tem, pois não morri. É o tipo de texto que realmente merece ser deixado em aberto: tal qual como a vida.

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  1. Rê Carinhato says:

    Joga o dedo na privada e dá descarga…. ele tá com muitos poderes! Você é a dona do dedo e não ele de você 🙂
    Você fez o que queria ter feito, afinal, quando um assunto realmente te altera, não há nada que breque nosso impulso de colocar na mesa o que se pensa.
    É difícil às vezes não ser dura com a gente…. mas pq que sempre teimamos em não nos defender!?

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