Entrou na sala do departamento em busca da Maria José. A encontrou curvada na cadeira, com a cabeça quase no chão, catando o lixo de papel picado que havia, acidentalmente, jogado do lado de fora da cestinha, a escutando praguejar bem baixinho e só soube que era isso por conta do tom que ela emitiu, e não pelo conteúdo em si, de tão baixo que foi. O que mais chamou atenção foi o fato da calça baixa associada à uma postura bem esticada para a frente ter deixado todo o “cofrinho” à mostra. Ele virou os olhos para cima, como se alguém o estivesse vendo e culpando por ter admirado a cena, e ficou nesta posição de vergonha de si até pigarrear e desejar um bom dia à Maria José. Esta se virou rapidamente, jogou os últimos papeis no lixo e sorriu, de forma bem encabulada, puxando a blusa para baixo e o cós da calça para cima. Encostou com força as costas na cadeira e assim ficou, de forma bem ereta e grudada na cadeira. Ele se perguntou se o vermelho do rosto dela era do sangue que havia descido por estar com a cabeça virada tão para baixo ou se era puro rubor de vergonha mesmo por saber, claramente saber (não duvidar), que ele havia oadmirado (ou, ao menos, visto) o cofrinho dela? Que situação. Enquanto isso, ela tentava mentalmente lembrar se a calcinha era baixa, a cor dela, se tinha renda, se estava furada. Deu branco. Não sabia mais de nada, nem mesmo se estava de calcinha! Puta que o pariu. Dentro de todos os minutos possíveis dentro da jornada de um dia de trabalho, o Franco havia vindo visitá-la justamente neste momentinho bandido. Injusto era uma palavra que nem definia. Concentrou-se. Ele também se concentrou, afinal aquele sorriso dela e o bom dia dele já não mais preenchiam o vazio da esquisitice formada. E se ele pudesse ao menos falar claramente que achou aquilo tudo o máximo , que queria abraçá-la para que ela não ficasse tão tímida, que estava tudo bem e que ele a achava linda, pronto, tudo estaria maravilhosamente resolvido! Se ela pudesse voltar no tempo e dizer, lá atrás, para que ele só fosse na sala dela “daqui a 38 dias” seria perfeito. Era o tempo que ela precisava para emagrecer, fazer bronzeamento artificial e ficar com marquinha de biquíni e o rosto naturalmente rosado (não de vergonha), pronto, tudo seria perfeito! Mas nada disso era possível, para nenhum dos dois, e o que sobrou foi o excesso de um segundo para que ele simplesmente virasse o olhar em direção ao chão, balançasse os papeis que carregava de uma mão para a outra e esboçasse mais um sorriso que ela interpretou como um “sinto muito pela cena que acabo de presenciar, sua branca leitosa”, seguido da fala mais cortante possível: “bom, nos falamos depois, não era nada urgente”. Ela se afundou na cadeira e o pescoço se enfiou no meio dos ombros. Já ele, saiu da sala puto consigo mesmo pela vontade de dar o abraço, mas confiante de que dar a privacidade para se recompor era, de longe, a melhor coisa que poderia fazer. Amanhã a chamaria para um café na copa. Ela levantou a cabeça e, decidida, escreveu um email para o chefe se desculpando, mas que não viria amanhã.
Que bonitinho… Adorei, uma leiturazinha leve e agradável.